domingo, 24 de julho de 2011

Mito Mídia

A mídia possui um caráter que pouco percebemos ou nos importa. Narcotiza ironicamente gentileza e altruísmo social em reportagens que colocam em júri – popular, ético ou empresarial? – os acontecimentos sobressalentes na seleção da imprensa. Seja feita a justiça. Na edição de 11 de maio de Conexão Repórter, do SBT, Roberto Cabrini trata do mito Alani, a menina de sete anos que se tornou conhecida internacionalmente como a pequena missionária do Brasil. Com repercussão além do que qualquer criança poderia suportar, pontua sutil ou explicitamente Cabrini, em absurdos 35 minutos e 4 segundos, o programa faz ingenuamente um metajornalismo às avessas: explora até que ponto toda essa exposição prejudica a vida da menina.

Conexão Repórter se utiliza de edições primárias de corte, enquadramento e trilha, no intento de sensibilizar a recepção. Ainda que questões pertinentes sejam colocadas, não foge à característica de espetáculo, como taxa em alguns momentos os cultos religiosos. Eis o realismo fantástico da mídia! Quão piedoso e justo o programa é ao expor e enredar ao comando do sarcasmo inconsequente de Roberto Cabrini seus personagens em busca de audiência?

Não haveria nenhuma declaração autorizada socialmente – como a da Psicologia tomada como aval de suas acusações aos pais da criança – que vetasse a abordagem que Cabrini faz à Alani? Responda agora: até que ponto toda essa exposição afeta a vida da menina? Estará sendo a fé explorada? Tanto quanto tudo aquilo que a mídia manipula em prol do paganismo comercial.

domingo, 22 de maio de 2011

Em 1978 dois homens se beijavam e posavam para a pintura. Quando decidiram gritar, o mar rebentou.
Um homem pendurado na luz, outro na coceira infame do peito. Saíram de um instante fugidio do acordado. Haja coragem.
Arrastavam o mar no zumbido oco do ouvido. Mundo de esquecimento e retorno.
Foi o cavalo negro que entrou em seu quarto e enlouqueceu a ausência?
As horas tem postura de guerra. Uma mariposa arritmica engole o cavalo e seca o mar.
Suas mãos viraram ouro. Seus pés viraram ouro. Veio a mariposa e os fez gelo.
Mãos e pés rezando vigília na planície de Dalí.
Esse vento parece pedra. Clausura manca da hora. Clausura manca de Aleph.
Uk up!

domingo, 17 de abril de 2011

Os nomes de Realengo

Karine Chagas de Oliveira, 14 anos. Rafael Pereira da Silva, 14 anos. Milena dos Santos Nascimento, 14 anos. Mariana Rocha de Souza, 12 anos. Larissa dos Santos Atanásio, 13 anos. Bianca Rocha Tavares, 13 anos. Luiza Paula de Silveira, 14 anos. Laryssa Silva Martins, 13 anos. A mídia contradisse seu cálculo exato, estatístico, quando identificou o nome e o tempo das doze crianças assassinadas em uma escola da zona oeste do Rio de Janeiro.
A cidade de Realengo, local onde o ex-aluno Wellington Menezes de Oliveira voltou para disparar contra dezenas de estudantes suas armas, fez com que o 4° poder da sociedade – a Mídia – decidisse que a tragédia do Japão ou os confrontos entre árabes e israelenses perdessem categoria na hierarquização midiática.
Todos os veículos informativos do país retomam, dia após dia, o acontecimento de 7 de abril. Não parece haver empecilho algum ao entrevistar e expor as crianças sobreviventes ou os familiares que perderam as suas. O objetivo é informar?
A cobertura insistentemente progressiva cumpre apenas ao critério de anunciação – a promessa de novos detalhes sobre o caso - para que fidelidade da audiência seja preservada.
Talvez isso nos faça pensar que a atenção dada às crianças ou aos criminosos do nosso país só parta de uma tragédia de repercussão internacional. Para que Realengo seja esquecida (não acho que deva), basta que a mídia selecione os fatos e hierarquize nossa atenção novamente, de acordo com os valores que elege como ideais. E as crianças voltam a ser número: 12 mortos.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

murro em rédeas de aço
é o estar-te para o cortejo
o problema do teu coração é por ser feito de sal
ou memória?
desordem no controle adequado da composição
com posto severo de guarda
expostos os desvios
sobre oposto, justaposição.