terça-feira, 25 de agosto de 2009

Guarani, 189

Foi da terra chovida, no quintal exilado da casa de meus padrinhos, que nasceu em mim o hábito de conversar com flores.
Era eu miúda como elas, mas não tinha a maestria de quem fora parido pela terra.
Dos diálogos que travávamos, horas e horas desbotadas pelo meu dezembro-infância, lembro-me da felicidade de ser flor. Confidência delas pra mim.
Eu não me importava, no entanto, com o valor daquele segredo. Ajeitava-lhes as folhas e as pétalas, cercava-as de cuidados que acabavam por ser a minha própria felicidade posta ali, enterrando pouco a pouco a autonomia de ser flor e feliz com minhas mãos leves, mas que levavam o peso de ter deixado todos os brinquedos para trás.
Fui uma menina má. Roubava confidências e vestia-me de flor. A terra chovida fazia-se minha assim; todos os ventos, todos os cômodos e todo o exílio daqueles dezembros faziam-se meus.
Já não era a desastrosa criatura que contava nove anos.Trazia um legado de eras do mundo.

sábado, 22 de agosto de 2009

Sens sentido

tem um cachorro morto na sala
e uma cadeira viva na mesa
uma pessoa enforcada na luz
e um tambor que dança no copo
tentar endender-se
faz emburrecer os sentidos

terça-feira, 4 de agosto de 2009


Deparamo-nos com textos a cada instante: seja na escola, na rua, ou dentro de um livro. Distante do que representa símbolos enclausurados em meios palpáveis, a leitura desses textos expressa-se como um caminho infinito para o conhecimento cultural de um povo e para a essência individual do que é humano.
É pelo ato de ler que adquirimos o poder de abrir portas de novos mundos, encontrando assim algo que vai além do conhecimento e da opinião compactados que nos são entregues pela eloquência da rotina. Escritores como Machado de Assis,que, indo a fundo na essência do ser humano, escancarando suas fraquezas, ruindo a imagem edificada por aparências, fazem com que questionemos quem somos nós.
É pelas reminiscências de tantos mundos visitados, e da visita ao prórpio eu, que se constrói um ser pensante, ciente de sua força individual no conjunto das relações humanas, capaz de questionar o rolo da alienação destacando-se do rótulo totalizador de "massa popular".
Pensar a importância da leitura é pensar o conhecimento, a construção e a identidade de uma pessoa.