Uma sala de aula nunca foi um ambiente que ela pudesse classificar como agradável. Não cabia naquela gaveta de gente, e mesmo as idéias que circulavam junto ao ventilador de teto lhe pareciam excessivamente impessoais. Assim dizia fulano, ciclano e beltrano. Segunda ela, quando era?
Mas havia um momento, sem a necessidade de sua permissão, que as idéias penduradas na hélice despencavam trazendo o peso de um soco no estômago: era a aula de cultura e identidade brasileira. Era a cisma natural das perguntas que ninguém tinha a valentia de pensar ou responder.
Diante da força das inquietações - e das cadeiras, mesas e quadros que se colocavam absolutos no consagrado habitat acadêmico – emudecia. O soco no estômago tirava-lhe a fala, mas de algum modo lhe fazia traduzir e proclamar as coisas de si de um jeito diferente.
A identidade, muitas vezes estupidamente erguida como estandarte de imposição do que teatralmente se é, aceitou travar diálogos com os fulanos e se compreendeu plural e não concluída. Talvez tenha adotado algo da estética do Bispo.
Estranho vício de ter as idéias desordenadas, violadas. Mas a abstinência vinda da constância que a perturbava mais além que a estabilidade a curou de certo modo de sua miopia.
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