segunda-feira, 30 de novembro de 2009

No caminho pra aula havia uma casa que se assemelhava a uma gaveta de gente. Seus espaços eram simétricos na composição da ruína que era.
Mantinha-se erguida como as ideologias dos homens e dava aos outros a mesmíssima tolice de não chegar a objetivo algum.
Mas lá estava ela. Estandarte da miséria dando a sensação de que o mundo ao seu redor poderia desmoronar sem que nela fosse acrescentada sequer uma rachadura.
Ana sentia aquela casa como um membro amputado seu que fora petrificado em seu caminho. Não sabia traduzir a saudade e a angústia que aquele objeto lhe causava, mas sua presença ali, sempre pontual na hora da passagem, lhe dizia sempre que não pedia compreensão. Pedia ser, apenas.
Adotou a casa sem importar-se com o porvir e armou-se com a segurança de ser possuidora de sua edificação, bastando. Tutora, não cuidou preservar o itinerário de suas idas e vindas.
Não era pé nem mão. A chegada se fazia mesmo sem que aquele membro lhe dissesse qualquer coisa todos os dias. Um dia, sentiu estar faltando alguma coisa no caminho. Quem sabe Drummond carregou sua pedra de vez, pensou.
Mas os tropeços de Ana se davam com intensidade cada vez maior. O poema estava finalizado e ela ainda não compreendia.
“Foi demolida durante a tarde de ontem a pequena casa abandonada que se encontrava no caminho Ouro Preto x Mariana.” Compreendeu. Sofrera um aborto.

2 comentários:

  1. a questão que não quer calar, afinal Ana se tornou uma desabrigada ou uma alejada?

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  2. quem não tem estes abrigos não está aleijado de alguma forma?

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