segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Literatura em outras linguagens

Mesa redonda do Fórum das Letras UFOP 2009

Na Igreja São Francisco, na cidade de Ouro Preto, nenhum objeto está disposto ao acaso. Tudo gira em torno de uma temática, o arrependimento. Há lá uma narrativa em forma de linguagem. Esta percepção foi compartilhada por Flávio Carneiro, ao abrir a mesa Literatura em outras Linguagens, em que estiveram presentes Adriana Lunardi, escritora; Jorge Díaz, espanhol que sonha ser considerado um honorável cidadão carioca, trabalha como roteirista e escritor; e Max Mallman, também roteirista e escritor.
Todos os autores caminham pelo romance, “uma forma literária propensa ao hibridismo”, segundo Flávio Carneiro e que possui a vantagem de, como gênero, tudo lhe caber, como pensa Adriana Lunardi. Em meio ao caleidoscópio de perspectivas aplicadas a diversas narrativas, pergunta-se se toda narrativa é literária.
Mallman declara que “a chave para o roteiro é a literatura, tudo são contar histórias”, quando se refere a essa forma narrativa que, segundo Díaz, nunca deve ser tida como concluída, precisando haver sempre um espaço para melhorá-la. No roteiro, as impressões literárias estão sempre cercadas pelo diretor, pelos atores e pela verba disponível para sua execução. No romance, que desde o século XIX ocupa lugar ilustre na literatura e que soube renovar-se para seu público, há intensa liberdade criativa, uma liberdade que “dá vertigem”, confessa Jorge Díaz. Carneiro expõe a contradição de que há certa imposição, principalmente do mercado editorial, de que os autores sempre falem dos mesmos assuntos.
Sobre a polêmica que gira em torno da caracterização de uma boa ou má literatura, foi levantada a importância da literatura popular para o amadurecimento de leitores. A análise da narrativa televisiva pôs em questão a validade da tradução literária nas telas e a posição da tevê como agregadora ou como dispersora de leitores. Sobre isso, Lunardi afirma que as pessoas têm necessidade de ficção, não importa em qual meio; e que essa questão é um enigma muito maior do que uma mera constatação estatística, referindo-se à audiência e à venda de livros. A liquidez do romance permite que linguagens de outras áreas, como a botânica e as artes plásticas apropriadas por Lunardi, adquiram a conotação literária.
A televisão, ainda que não mostre como exemplo cidadãos leitores, os atrai quando apresenta releituras de obras como “O primo Basílio”, de Eça de Queirós e “Gabriela”, de Jorge Amado. A acusação de que o Brasil é um país carente de leitores devido à importância dada pelos brasileiros para a televisão mostra-se falha quando constatamos que nunca se leu tanto e de maneira tão democrática, em que novos suportes dão mais acesso à informação, quanto hoje. Segundo Mallman, o romance pode canibalizar outros meios, e esta é uma relação recíproca.

Díaz afirma que as pessoas atribuem a promoção da educação e do hábito de leitura à tevê,uma função que, segundo ele, cabe à família e à escola. Lunardi afirma que é responsabilidade do governo dar acesso à leitura e se contradiz ao dizer posteriormente que “preservar a leitura cabe a quem lê e não ao Lula”. Como escritora que possui a liberdade de escrever o que gosta e de não se ater à audiência, “desacredito na superstição numérica; estamos falando de literatura ou de estruturas sociais?”, declara Lunardi.
A literatura, não importa em que linguagem seja apresentada, possui o poder orgânico de formação cidadã. Sua tradução em outros meios e o barateamento de livros são processos que democratizam o acesso à leitura.

colaboração: Marcela Servano

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